22/04/11

Pai - 1º versão

Nasci fruto de uma relação fugaz entre uma adolescente que via o mundo através de uns óculos cor-de-rosa e acreditava na ilusão do amor eterno, e uma criatura que a iludiu com palavras bonitas mas mal soube que a sua semente tinha dado frutos, fugiu para parte incerta. Foi no dia em que ele abandonou a minha mãe que ela contou aos meus avós que estava grávida. Apesar de temerem as críticas e os olhares mordazes da vizinhança, os meus avós apoiaram a minha mãe durante a gravidez e criaram-me nos primeiros anos como se de um filho me tratasse. A minha mãe e a minha avó sempre fizeram os possíveis e os impossíveis para sobreviver. Ambas tinham vários trabalhos para conseguirem trazer alimentação para casa. O meu avô lamentava todos os dias o combate que travara durante a guerra do ultramar e que o deixara dependente daquela cadeira de rodas. Considerava-se um estorvo para nós pois em muitas situações estava dependente da nossa ajuda. Sempre vivi com pouco, mas o pouco que me davam chegava para viver feliz. Na escola, as notas nunca foram um problema. Sempre me safei bem nas aulas e as amizades também eram muitas.

Uma tarde, terminar mais um dia de aulas no liceu, deparei-me com o olhar preocupado da minha mãe.

-Que se passa mãe?

-É o teu pai…Acabou de ligar, e diz que te quer ver.

Na minha cabeça formou-se uma estranha confusão de sentimentos. Por um lado, era meu pai, e eu sempre quis ter um pai. A vontade de o ver era muita. A curiosidade também : Será que o meu pai também gosta de futebol? Será que a música que eu oiço é a mesma que ele ouve? Por outro lado, um sentimento de raiva apoderou-se de mim. Dezasseis anos depois aparece e pensa que está tudo bem?! Sempre sobrevivi sem pai, porque não continuar assim??

-Preciso de pensar, mãe.

-Eu sei meu filho.

Fui falar com quem mais me podia ajudar, o Miguel. O Miguel era um colega de escola com quem eu me dava desde pequeno. Quando cheguei á escola, no dia seguinte, perguntei-lhe como era ter um pai.

- Ter pai é poder abraçá-lo quando temos saudades. É poder ligar-lhe quando precisamos de dinheiro. É chorar quando estamos mal e gritar de alegria quando conseguimos alcançar os nossos objectivos. Ter pai é fazer de tudo para o convencer a deixar-nos sair a noite. É ter 18 num teste e ouvir da boca dele que podemos fazer melhor. Ter pai é passar horas com ele sentados no sofá a ver futebol. Ter pai é receber lições de vida. Ter pai é, acima de tudo, uma razão para se continuar a viver.

Nesse momento tomei uma decisão. Comuniquei-a á minha mãe mal cheguei a casa:

-Mãe, diz ao pai que amanhã a tarde me pode vir buscar.

Nessa noite mal consegui dormir. Tinha medo de criar falsas expectativas em relação àquele ser que eu nunca tinha conhecido. Porém era impossível não pensar que daqui a uns tempos podia ter finalmente um pai.

No dia seguinte, depois das aulas, fiquei em casa à espera da sua chegada. As pernas tremiam-me e o coração batia cada vez mais rápido. Esperei um pouco até que finalmente soou o som da campainha. Abri as portas com a mão a tremer e deparei-me com um homem alto e moreno, tal como eu. Olhou-me nos olhos: -Desculpa meu filho – e agarrou-se a mim. Sem saber o que fazer afastei-o e disse-lhe: -Sempre cresci sem pai e fui feliz. Se há alguém a quem tenhas de pedir desculpa, não sou eu...

A minha mãe olhava-nos com lágrimas nos olhos. Ele dirigiu-se a ela:

-Des…

-Não digas nada. Não vale a pena pedires desculpa quando sabes que nunca na vida te vou perdoar. O que me fizeste não se faz, não tem perdão. Fizeste-me acreditar em mentiras e ilusões e quando eu menos esperava apunhalaste-me pelas costas. Só te peço uma coisa, não faças com o nosso filho o mesmo que fizeste comigo.

-Não faço, nem quero fazer. Neste momento só quero que ele me dê uma oportunidade para recuperarmos o tempo perdido.

Olhei-o nos olhos:

-Não penses que regressas de repente e tudo fica bem. Sai daqui. Não te consigo perdoar.

O meu pai saiu com lágrimas nos olhos e eu corri a fechar-me no quarto. Descarreguei a minha raiva no pouco que tinha. Raiva de saber quem era o meu pai, raiva de saber que provavelmente nunca mais o ia ver e, acima de tudo, raiva de mim próprio por o ter mandado embora sem sequer ter ouvido as suas explicações.

Mais uma noite mal dormida e um dia de aulas para esquecer. Cheguei a casa e tocou o telefone. Era do hospital da zona. O meu pai tinha sido atropelado. Estava mal e queria ver-me. Sem sequer pousar a mochila, dirigi-me para lá.

Entrei no quarto e vi que o meu pai estava a dormir. Dirigi-me a ele e peguei-lhe na mão:

-Estás perdoado, pai.

Filipe Marques Nº41199

2 comentários:

  1. Sinto que podes fazer muito para melhorar esta história. Procura explorar mais os motivos do arrependimento do pai, se poderes.
    No primeiro parágrafo escreveste "como se de um filho me tratasse". Se calhar querias dizer "de um filho se tratasse"?

    -Filipe Gomes

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  2. "Foi no dia em que ele abandonou a minha mãe", podias substituir por "No dia em que ele a abandonou, ela decidiu contar aos meus avós" (...)
    "como se de um filho me tratasse" por "Como se fosse filho deles"
    Na parte que diz "para conseguirem trazer alimentação para casa" creio que "comida" soa melhor.
    "Uma tarde,(ao) terminar mais um dia de aulas no liceu"
    revê os acentos, tens muitos (á) que devem ser substituídos por (à)
    "agarrou-se a mim" (agarrou-me)
    A história tem muito por onde se pegar e como foi sugerido anteriormente, podias falar um pouco mais sobre a personagem do pai, porque é que ele se foi embora, ou porque razão apareceu assim sem mais nem menos? Talvez seria interessante que o acidente não decorresse logo de seguida ao encontro.

    31223, Maria Inês

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