Aqui está a ultima versão do meu conto... Retirei a última parte e fiz outra ^^ O que acham? Comentem!
1 beijinho,
bom estudo,
até 4ª,
Joana Maria (nº40580)
http://pt.scribd.com/doc/56541095/3a-versao-e-ultima-Conto-Individual-escrita-criativa-flul
O Principezinho
"- Por favor... Prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.
- Eu bem gostava [...], mas não tenho tempo. Tenho amigos por descobrir e uma data de coisas para conhecer...
- Só conhecemos as coisas que prendemos a nós - disse a raposa. - Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada. Compram as coisas já feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, prende-me a ti!
- E o que é preciso fazer?
- É preciso teres muita paciência, Primeiro sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada [...] todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto..."
"Principezinho", Saint – Exupéry
Estou cansada, demasiado cansada, exausta. Um nó de sentimentos mora dentro de mim e não consigo fazer-lhe frente. Não consigo dominá-lo, não consigo ter pensamentos lógicos, normais. Já foi há um ano, mas nem dei por dia nenhum passar.
Dou-lhe no máximo um mês…
Foi o prazo estabelecido. O Dr. Mendonça dava-lhe um mês de vida. A ele, ao meu bebé. Eu, que esperei nove meses para conhecer o meu bebé; eu, que tinha vivido cinco anos perfeitos com ele, tão perfeitos!; eu, que esperava ansiosamente pelo seu primeiro dia de escola primária, pelo seu crescimento, pelas suas amizades, pelas suas descobertas… eu, que lhe dava a eternidade. Mas agora, a eternidade só podia durar um mês. Na melhor das hipóteses, claro. Podia durar menos, podia partir antes do tempo.
Dou-lhe no máximo um mês…
As palavras ecoavam e não me saiam da cabeça, dos ouvidos, da vida. E ali estava o meu bebé, sem saber o que se passava, brincando com o seu melhor amigo, como em todos os dias. O urso João acalmava-o nas noites de sonhos maus, acompanhara-o na sua primeira ida ao dentista e viajava sempre ao seu lado no carro, cinto posto e tudo! Agora, o urso João acalmava-me a mim deste sonho mau. Só queria acordar, abraçar o meu bebé e saber que aquilo não era real. Mas isso não aconteceu e o mês ia passando. Cada vez que olhava para ele, tranquilo nas suas brincadeiras, cada vez que penteava os seus caracoizinhos louros de anjo, cada vez que o deitava na cama e o aconchegava, um sufoco no peito tirava-me a respiração. Não sabia se era a última vez que ele brincava, ou se o voltaria a pentear e a sentir o seu cabelinho, tal e qual o cabelo do pai, ou talvez nunca mais o deitasse naqueles lençóis de comboiozinhos ou mesmo noutros quaisquer.
Não penses na data, amor. Só é pior para ti. Se não soubesses de nada, de certeza que farias a tua vida normal. E mesmo sem data, podia-lhe acontecer alguma coisa. Pode sempre acontecer qualquer coisa a toda a gente. A diferença é não sabermos quanto tempo ainda temos. O Miguel continuava a tentar dar-me forças. Dava por mim em pranto a meio da noite e nunca se cansou de tentar, mesmo que dissesse o mesmo, noites seguidas. Continua a viver como viveste estes cinco anos. Foram bons. O tempo está a passar, por isso aproveita o tempo que ainda tens com o nosso bebé. Até pode durar mais, não sabes… Agradece estes cinco anos, agradece termos tido a hipótese de o conhecer.
Eu não percebia como conseguia ele estar tão calmo. Mas ele era assim e tinha sido essa sua calma que me fizera apaixonar por ele, tinha sido a sua paciência que me fizera casar com ele seis anos antes.
20 de Março de 2010. O dia amanheceu triste. Menos uma borboleta para celebrar a festa da primavera. Bateu as asas e voou para bem longe. Deixou um vazio, como se sempre tivesse existido, como se eu sempre o conhecera.
Hoje, um ano depois, recomeça a primavera. Eu estou em constante inverno. Mesmo que o sol doire lá fora, cá dentro faz frio, tanto frio! E eu estou cansada de mim. Estou cansada de me sentir assim, de não conseguir pensar em mais nada, de não conseguir dormir, de não conseguir comer, de não viver. Tenho noção que parei no tempo. Tenho noção que me tornei desleixada, que já não sou a companhia certa para o Miguel. Ele consegue continuar o caminho. Consegue estar bem, sorrir, ser o Miguel que era, ser o marido perfeito. Eu não. Mas já nem me importo. Somos companheiros de casa, de vida e de silêncio. Abraço-o, choro e adormeço. Acordo, choro e abraço-o.
E se saísses de casa, amor? Talvez ainda não esteja na hora de voltares ao emprego, mas procura uma actividade… Vai à biblioteca, vai passear com as tuas amigas, vai fazer voluntariado…
A manhã estava quente e cheia de sol. Fiz a vontade ao Miguel, vim passear. Mal saio de casa, as lágrimas começam a turvar-me a vista e respiro fundo. Já chega. Já passou um ano. Tenho que conseguir continuar. Repito para mim.
Aquela palavra que o Miguel usara… “Voluntariado” … Na minha juventude tinha feito voluntariado. Com animais, com idosos, com crianças… Sim, talvez fosse uma boa ideia! Estaria ocupada e a ser útil… Sabia que havia um orfanato a uns quarteirões do meu prédio. Podia-me oferecer para dar explicações, ou para as horas das refeições, ou para o que fosse preciso. Dirigi-me, passos decididos, até ao portão da casa. Lá dentro um pátio, um jardim, crianças, o carrossel a girar, duas gémeas a saltarem à corda, crianças, os baloiços a subir, a descer, a subir, a descer, crianças, o escorrega amarelo por onde deslizam gargalhadas rápidas, crianças… E oh! O meu bebé. Lá está ele a dizer-me adeus com a mãozinha, os seus caracóis dourados, lindo, tão lindo, a rir, a outra mão a abraçar o urso João, os ténis que comprámos quando passámos na montra da loja de desporto. Quero aqueles ténis mamã, quero jogar à bola com aqueles ténis.
- Bom dia! Posso ajudá-la? Vem visitar alguma criança?
Uma voz, do outro lado do portão, interrompeu-me os pensamentos. Uma senhora de bata cor-de-rosa aos quadrados, olhava para mim, sorridente. Olhei de novo para o pátio. Onde estava o meu bebé?
- Bom dia, não, não venho visitar ninguém… - não sabia o que responder. – Acha que seria possível falar com a assistente social do orfanato?
- Se não estiver em reunião acho que terá muito gosto em recebê-la. Vou procurá-la. Entre e espere um pouco. Como é que se chama?
- Maria.
Entrei. Sentei-me num banco do pátio a olhar aquela alegria, aquele vozear, aquela vida.
- Bom dia! Queria falar comigo? – uma jovem sentou-se ao meu lado, no banco.
- Sim, sim. Maria, muito prazer. Eu soube do orfanato e como tenho algum tempo livre… pensei que me poderia oferecer para ajudar, no que fosse preciso… Não sei se precisam de voluntários…
- É uma atitude muito louvável, a sua, Maria. É pena, já temos as tarefas todas asseguradas… Mas penso que duas mãos são sempre bem-vindas. Alguma vez fez voluntariado antes? – acenei que sim. – Como deve compreender, não a conhecemos e nos dias que correm é preciso ter muito cuidado. É preciso velar pela segurança das nossas crianças. É preciso preencher uma ficha com os dados pessoais e depois de um período de experiência é que poderá ser integrada nas actividades da casa. Está disposta a isso? – acenei afirmativamente. - Tem filhos, Maria?
- Tive.
- Oh, lamento, o que quer que tenha acontecido… Sabe que nos chegam muitas pessoas em fase de luto para trabalhar com crianças. Eu desaconselho, desculpe-me a sinceridade. Estas crianças não são substitutas de nenhum filho perdido, nem lhe vão trazer de volta filho nenhum. É preciso estar muito bem resolvida para conseguir ser útil, sem se magoar.
- Ainda assim… Não sei se já ultrapassei completamente tudo, como compreende, nem sei se ultrapassarei algum dia. Não posso ajudar em coisas pequenas e logo vemos como me dou?
- Talvez, sim. Mas fica o aviso, Maria. Não sei se vai conseguir. Pode conseguir e, nesse caso, ajuda alguém e ajuda-se a si, mas não fique triste se não conseguir. Olhe, podemos tentar integrá-la nas horas de tempos livres, no recreio. O que lhe parece?
Ali estava eu. Por onde começar? Como chegar àqueles miúdos? Não me conheciam, não os conhecia… Não iam interromper as suas brincadeiras para me conhecer. Esperei. Olhei em volta e vi um miúdo, pequeno, num canto sentado. Tinha um caderno ao colo e pegava num lápis. Estava sozinho e sentei-me ao lado dele.
- Estás a escrever uma história?
- Sim. Sou inventor.
- Se calhar queres dizer “escritor”… Os escritores é que escrevem histórias.
Não me ligou. Não interessava a palavra certa. Certo era que criava histórias.
- Era uma vez um menino, um menino feliz. Pegou num balão e voou, como sempre quis. Era uma vez um menino, um menino contente. Só queria ler e escrever e ser muito inteligente. Era uma vez um menino, um menino bonito. Só queria um amigo, nem que fosse um burrito. Era uma vez um menino, um menino normal. Não queria nada de nada e fazia tudo mal. Destes quatro meninos só um é real. Agora adivinha tu, qual é, afinal. O último de todos foi o que mais sofreu. Já adivinhaste? Esse sou eu.
Não sabia o que dizer àquilo… Seria a sua forma de se apresentar? - Foste tu que fizeste? – comecei por perguntar. – Tens mais histórias? Deixas-me ver o teu caderno?
- Sim, está cheio de histórias… Toma!
Peguei no caderninho. Vazio, branco da primeira à última página.
- Como te chamas?
- Era uma vez um menino, um menino feliz. Pegou num balão e voou, como sempre quis…