Desde já obrigado pelas sugestões sugeridas que me ajudaram muito com os problemas expostos e com outros que não tinha ainda notado.
1 Em relação às citações, optei por seguir a forma que Gonçalo M. Tavares usa no livro Jerusalém, de referir apenas os autores citados no fim do livro. Achei o método interessante, pois sem tirar espaço e protagonismo ao que acontece no livro, aguça-nos a curiosidade não só pela citação mas pelo momento da citação no livro, faz-nos querer retomar a leitura, dá-nos novas pistas de meditação sem as impor ao longo do livro. E assim, no meu conto, em relação à citação de Fernando Pessoa, continua a ideia de Universalidade da ideia, sem a restringir logo a uma frase de alguém em concreto
2 Cheguei a pensar retirar a citação de Sophia, pois parecia-me que o acrescentava não era suficiente para balançar o peso da relação entre a autora e a “minha” Sofia, mas a leitura e comentário da Cristina fez-me voltar a querer manter o poema, e assim, usando o seu conselho, indiquei o nome completo, para manter a distância entre ambas.
3 Quanto à tradução de Dante, resignei-me ao facto de que mais vale uma tradução fraca que tradução nenhuma. Mantive a minha apenas por ser uma interpretação mais pessoal dos versos, e assim reflecte melhor a minha relação com o conto e com o poema.
4 Usei também a ideia da Cristina de descrever primeiro a aldeia antes de “revelar” o narrador, e gostei do resultado, mas digam-me se continuarem a achar uma mudança muito brusca.
Agora que nos aproximamos da versão “final” do conto, peço e agradeço desde já todo o feedback que possam dar.
Saudações académicas
Marcos de Sousa Guedes
Nº 34083
Marco,
ResponderEliminarEm primeiro lugar, fico contentíssima por saber que o meu comentário valeu-te e deu-te outros prismas reflexivos e analíticos. Digo-te, uma vez mais, que a consideração que fiz do teu conto estimulou muito o surgimento da razão existencial do meu. Que óptimo exercício!
Parece-me interessante analisar a evolução dos contos de alguns colegas. Como disse o Eduardo, “este exercício é muito importante, fez com que deixássemos de ser os primeiros e últimos leitores daquilo que temos vindo a colocar na gaveta”. Neste sentido, e sabendo da tua reacção ao meu primeiro comentário, gostaria de te deixar mais uma leitura minha do teu conto. Que não seja a última!
Esta segunda versão do teu conto parece-me mais coesa e ritmada que a anterior. A meu ver, conseguiste dar maior sentido narrativo ao surgimento do terceiro personagem, do narrador e da sua contemporaneidade. Gostaria de deixar-te alguns apontamentos sobre a tradução dos versos de Dante, sobre algumas expressões que não me parecem soar bem na continuidade do conto e sobre a questão das referências a escritores e citações de poemas.
Fui procurar o significado de “picciola”, “compagna” e de “diserto” em alguns dicionários italiano – português. Encontrei sempre a tradução de “picciola” como “insignificante”, mas descobri que em italiano antigo significa “pequena”, como indicaste, e de “compagna”, como companheira e colega. Por sua vez, “diserto” parece-me o particípio passado de “disertare”, que tem significado semelhante ao verbo “desertar” em português, isto é, tornar deserto, despovoar, abandonar, afastar. Assim, proponho a seguinte tradução: “Mas meti-me pelo alto mar aberto/ só com um lenho e com aquela companhia/ pequena da qual não me quis afastar”. Realmente, não sei que proposta fazer para incluir “colega”, penso que fica melhor “companhia”, como puseste. Uma amiga italiana sugeriu outra tradução: “Mas parti para o longe mar aberto/ só com um barco e aquela companheira/ pequena que não abandonei”.
(continuação no próximo comentário)
Existem quatro conjuntos de palavras que parecem ser dissonantes com o resto do teu texto, e, na minha opinião, são os seguintes: “Certo domingo”, “nota máxima”, “no segundo dia, a primeira viagem de recreio”, “casas caiadas de branco”. Os domingos são vários e são fulcrais a narrativa, porém penso que a dupla repetição de “certo domingo” é desnecessária. Talvez possas trocar o “certo” por um sinónimo. A expressão “nota máxima” parece-me escapar do campo semântico que tens desenvolvido no conto, poderás dizê-lo de tantas outras formas. Em “no segundo dia, a primeira viagem”, utilizas dois números ordinais de modo consecutivo, “segundo” e “primeira”, sugiro: “no dia seguinte, a primeira viagem”. Por último, penso que todas as casas caiadas são brancas, ora se as casas caiadas sofrem demãos de cal diluída e se a cal é branca, as casas caiadas são brancas. As “casas caiadas de branco” parece-me um pleonasmo, pelo que a minha sugestão é simplificar, perpetuando a referência a um tipo de conservação das moradias que é muito utilizado na costa portuguesa: “casas caiadas”, somente.
ResponderEliminarPor fim, ao reler o teu conto reparei em referências indirectas a outras poesias, além daquelas evidentes. Quando li “o cachimbo abriu-se num sorriso triste”, lembrei-me imediatamente de um poema de Adriano Correia de Oliveira, “Menina dos Olhos Tristes”: “Olha o senhor pensativo / veja o cachimbo a apagar / o soldadinho não volta do outro lado do mar”. Compreendo que estes versos não tenham uma relação directa com o teu conto, mas poderá dar-te algo. Logo a seguir, Sofia diz “acham que sou louca”, fala que logo me trouxe ao pensamento o “Barco de Negro” de David Mourão-Ferreira. Neste caso, são “as velhas da praia” que são loucas ao dizerem que o “amor” do sujeito poético não voltará, é exactamente a situação inversa. Não és só tu que tendes a incluir citações ou referências a poesia já escrita, também o leitor poderá, como eu, associar livremente palavras com poemas que já tenha lido. Alguns teóricos afirmam que esta é uma tendência “pós-modernista”: a quantidade e qualidade do que já foi escrito serve de argumento e estímulo a literatura contemporânea. Aproveitando a afirmação destes académicos, fiquei a pensar em “roubar-te” a ideia da epígrafe, poderá dar um ponto de partida mais preciso ao meu conto, elucidando o discurso que a ele está implícito. O que achas?
Espero ter comentado a tempo e que estas considerações te sejam úteis!
Até a versão final! Bom trabalho!
Um abraço,
Cristina, nº37959
Juntar Homero, Dante, Pessoa e Sofia numa prosa de quatro páginas é um grande risco. Mas que vale a pena correr se o resultado for este. Muitos parabéns.
ResponderEliminarTenho apenas algumas sugestões: a primeira é que fizesses uma revisão ao campo semântico da palavra mar. Não sei se é propositado, mas na segunda e terceira leitura continuo a achar excessivas as aparições do mar. Por exemplo, na expressão “canto das sereias do mar”, não podias cortar “do mar”? Mais à frente, logo a seguir a uma frase que acaba com “mar”, tens “à procura de um nome nos gritos das gaivotas e nas respostas do mar”. Para além de estares a repetir, parece que “secaste a fonte” depois dos gritos das gaivotas, e acho que podias ir mais longe. Do mesmo modo, sugiro: “O sol rompia por entre as nuvens carregadas, transformando as sombras em prata”; “E a voz de Henrique soou pelas águas” ou “ecoou sobre as ondas”(no caso de fazer sentido a existência de ondas, ainda que metafóricas, no momento em que a voz de Henrique se projecta); por último, a expressão “sempre com os mesmos humores inconstantes”soa mal. Ou “com os humores inconstantes de sempre”, ou “com os mesmos humores inconstantes”.
Não sou grande fã, confesso, do narrador de primeira pessoa que surge no fim. Acho que habituas o leitor a um estilo muito diferente de uma voz que de repente vem pousar a caneta e acender um cigarro. Mas se mais ninguém aponta essa questão então se calhar a falha é minha.
Um abraço,
António Seabra
Nº 41106