25/03/11

Conto individual-1ª versão

Uma noite no Demi

No Sábado passeámos de carro, ontem fomos ao parque e hoje é a despedida do Mário. No Domingo vamos ao rio, mas já sem o Mário que terá partido.

Ele ainda não apareceu, foi a Cascais comer um cone de morango, deve estar a chegar.
Vou pedir o bitoque, acredito que é a melhor opção, o Mário pedirá a espetada de lulas, eles não sei, não faço ideia, talvez peçam um arroz, dá para dois.

O meu relógio custou 20 euros, é preto e tem um botão que ilumina o visor. O do Mário custou 500, é um Raymond Weil.

Ontem não vi o Mário. Fui ao parque e desenhei o arvoredo, ficou feio, rasguei o desenho, já não o vou oferecer ao Mário, comprei-lhe um presunto, de porco preto.

O Mário uma vez comeu a minha namorada, acho eu, não tenho a certeza, penso que sim.

-Tavas por quem na guerra civil espanhola?
-Não é ‘tavas’ é ‘estavas’. Estava pelo Franco.
-Cabrão do fascista. O que quer dizer mimesis?
-Não sei. Acho que é um bolo.


aluno 37965

10 comentários:

  1. Rodrigo,

    pessoalmente gostei da ideia. Mas como já foi dito na aula, penso que deves organizar um pouco mais o encadeamento das perguntas e respostas.

    Quanto à guerra civil de Espanha e o facto da personagem não ter vivido essa época, na minha opinião, não tem qualquer problema. Todas as vezes que leio textos sobre guerras que aconteceram em anos anteriores ao meu nascimento, ao tomar conhecimento das motivações de cada um, tomo sempre um partido.


    Talvez por ter sido algo inesperado, devo confessar, acabou por captar a minha atenção.


    - Fábio Cruz 39021 -

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  2. Rodrigo:

    Gostei bastante desta tua ideia. Creio que acabaste por dar um novo significado àquilo que é o conto.
    Está breve, mas conciso e, portanto, não corres o risco de aborrecer o leitor.
    No entanto, penso que é importante conferires ao teu texto algum objectivo. Falta-lhe conteúdo.
    Talvez (e como foi dito na aula) seria bom para ti que aprofundasses mais a personagem do Mário, já que é tão presente e nomeado no teu texto.
    Porém, talvez o facto da maioria da turma (incluindo eu) não ter compreendido logo o teu conto, signifique que tu é que estás à frente no tempo, enquanto que nós ainda nos encontramos muito agarrados e perdidos em prolegómenos e contextualizações desnecessárias. Mas isto sou eu a divagar...
    Continuação de bom trabalho.

    Aluno nº41149

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  3. Rodrigo,
    a mim, enquanto leitora, este micro conto fez-me espécie...
    Não compreendi o que pretendias contar, não compreendi quem eram de factos estas personagens, ou em que tempo histórico se situavam as mesmas...
    Mia Couto, como lemos na aula, em "Uma palavra de conselhos e um conselho sem palavras", diz que o "conto não segue vidas inteiras. É uma iluminação súbita sobre essas vidas...". A mim pareceu-me um flash demasiado rápido. Mal se acendeu, apagou-se. Nem tive tempo de ver...
    Penso que isto daria um óptimo começo ou um óptimo fim. Falta-me algum desenvolvimento, mesmo que pouco. Falta-me que a luz incida sobre estes pedaços de vida e de gente só mais uns segundos...
    Continuação de bom trabalho a ti, Rodrigo, e a todos :)

    Joana Maria, nº 40580

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  4. Como eu tinha referido na aula, este conto não só parece estar bastante aliado ao nonsense como tem potencial para ser uma excelente peça de nonsense.
    A aleatoriedade das frases e pensamentos está excelente agora ao invés de tentares aprofundar e filosofar a obra, tens um trilho pela área da comédia perfeitamente delineado.

    Ricardo Rodrigues
    44942

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  5. Olá a todos, obrigado pelo vosso feedback. Vou ter presente as vossas sugestões quando escrever a versão final.
    Rodrigo
    37965

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  6. Rodrigo,

    Tal como já te tinha dito, eu gostei. Há uma coisa que eu acho que tem de ser tida em consideração, que é o facto de conseguires prender o leitor do princípio ao fim. Não é para todos!!

    Agora, convenhamos, o conto é pequeno, o que torna a tarefa de prender o leitor mais fácil. Será que consegues manter o leitor interessado durante mais tempo? Se eu fosse a ti, aumentava o tamanho do teu conto, até como desafio a ti próprio, e tentava dar-lhe mais alguma consistência.

    Também acho que o teu conto se aproxima do nonsense. Do que percebi, não era esse o teu objectivo. Se queres fugir a isso, acho que podes manter o que tens, perfeitamente, mas talvez tentar encontrar elos de ligação mais fortes entre as ideias no texto, ou mesmo (e quanto a mim até seria preferível) continuar mais um pouco da "estória" de forma a justificares as frases anteriores.

    Há aqui indícios que podem ser aprofundados - acho que é isso que os maiores cépticos em relação ao teu trabalho gostavam de ver -, mas eu, sinceramente, não vejo obrigatoriedade nisso. Não acho assim tão importante saber os sentimentos verdadeiros do narrador em relação ao Mário ter comido a sua namorada nem nada disso. Tenho, no entanto, muita vontade de perceber melhor quem é este Mário e de poder, enquanto leitora, fazer um juízo de valor em relação à personagem - coisa que só poderei fazer se souber mais algumas coisas sobre ela...

    Estou curiosíssima por ler a tua segunda versão! Acredito que este seja o ponto de partida para um bom conto numa linha mais humorística.

    Desejo-te inspiração e sabedoria!!

    Nº37960
    Helga Costa

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  7. Rodrigo,

    Gostei do conto e da sua diferença mas acho que se encadeares as frases com o texto, o leitor fica mais claramente com a ideia que querias passar sobre serem pensamentos de alguém enquanto escolhe o jantar num restaurante. Mais a mais, acho que até se encadeiam bastante bem com o restante texto sem ser necessário grande esforço para a sua incorporação.

    Quanto à temática da Guerra Civil Espanhola, eu gostei e concordo com o que o Fábio disse no primeiro comentário ao teu texto.

    Acho também interessante o encadeamento temporal dos elementos do texto que (não sei se propositadamente) começa pelos euros (Presente), passando pela Guerra Civil Espanhola (Anos 30 do Século XX) e termina com a mimesis (Grécia Antiga). Estes elementos, juntamente com a progressiva falta de memória em relação aos mesmos, parecem dar-nos um ar da pós-modernidade, em que a memória do passado longínquo se atrofia e desvia cada vez mais.

    De qualquer maneira, se quiseres trabalhar um pouco mais a comédia também acho que é uma boa vertente a explorar e desenvolver.

    Susana Correia
    37786

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  8. As dicotomias (presente / passado; paz /guerra; indiferença / paixão) são aparentes. O passado e a guerra são só evocações, a paz dos comensais é uma “paz podre”, a “paixão” é apenas enunciada em forma de insulto, a indiferença que não parece real (são referidos os valores dos objectos, a suspeita relativa à namorada) acaba por o ser porque nada disso é importante, porque o conhecimento do outro é superficial e não há franqueza, porque a namorada é, também ela, um consumível, tal como o jantar, tal como o porco. A ausência de conhecimento do outro está ainda subjacente na conversa que se cruza.
    É assim que vejo este quadro: uma indiferença desoladora onde nem a amizade se concretiza, sentimentos recalcados ou que talvez não existam, consumismo e valores materiais dominando.
    Valeu a pena o texto, nem que seja pelos comentários que suscitou.

    Isabel Burgo, nº 41435

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  9. Rodrigo,
    gostei bastante do teu conto.

    1. Teve um efeito inesperado que se fez de imediato sentir na questão obrigatória de produção criativa ao longo de 5 páginas.Afinal inútil como demonstraste, uma vez que a tua capacidade criativa brotou em meia dúzia de parágrafos.
    2.O segredo da vida actual está nele bem claro: o absurdo do homem acidental, também fazendo parte de um universo acidental errando à deriva. Procurando obsessivamente um referente que não existe. Teremos nós ainda algum referente...? (E será preciso tê-lo?).

    3. Senti esse efeito no meu projecto de conto o que desde já teve como resultado o facto de ter decidido abreviar e deixar-me de considerações filosóficas.

    Joana Leotte

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