Uma das propostas que vos faço é escrevermos um conto colectivo, que começará por ser planeado em conjunto e depois redigido sequencialmente por cada um dos alunos, sendo periodicamente sujeito a uma revisão na sala de aula.
Sugiro como linhas de saída, marcando já a brancura da página, o seguinte excerto do início de um conto de Teresa Veiga.
"A verdade é que eu estive sempre convencida de que o meu casamento com o primo António não ia durar muito tempo, mas também não podia imaginar que as coisas se passassem como aconteceu. A razão por que mesmo assim me deixei embarcar neste projecto claramente insensato tem a ver com a predição desabusada de uma cigana que um dia, na feira de Guadalupe, leu na minha mão que havia de viver sozinha até aos oitenta anos, depois de ter rejeitado um homem que me havia de fazer muito feliz. Nunca acreditei em bruxos e videntes mas verifico amiúde que acertam em cheio, pelo que convém desmascará-los quanto mais cedo melhor."
Boa noite, professora!
ResponderEliminarParece-me uma boa sugestão... Este excerto foi retirado de que conto de Teresa Veiga?
Joana Maria (nº40580)
Olá, Joana:
ResponderEliminarIsso é segredo. Não quero de nenhum modo influenciar o desenvolvimento da VOSSA história.
Parece-me dveras gratificante este exercício.
ResponderEliminarUm bom meio para estimular o processo criativo e um bom recomeço ao infindável mundo da escrita. nº40834
Fico feliz por se estar já a criar esta dinâmica reveladora do interesse de tantos escritores... amanhã falamos sobre isto e muito mais na aula, sim?
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaros colegas e professora,
ResponderEliminarJá terminámos a nossa parte do conto, mas não conseguimos postar no blog pois devemos de ter a password e/ou o usuário errados. Seja como for, colocamos aqui a primeira parte do conto para que possam ler até o problema ficar resolvido.
Fábio, Pedro e Susana
Nunca mais me irei esquecer daquela tarde em Guadalupe. Se fechar os olhos com força quase que consigo cheirar o odor adocicado da feira, ouvir o ruído das vozes de feirantes e turistas e sentir o calor do sol na pele. Se fechar os olhos com força quase consigo cheirá-lo, ouvi-lo e senti-lo como se ele estivesse ao meu lado. Miguel era tudo o que eu sempre desejara e bastante mais. Nos meus vinte anos nunca conhecera um homem como ele: belo, exótico e misterioso. Acima de tudo misterioso. Recordo-me nitidamente do seu rosto, de todos os seus traços faciais. Um traço de preocupação rompia constantemente a sua testa, mantendo sempre o sobrolho franzido como se o mundo contra ele conspirasse. Amá-lo era como saltar de um trapézio sem rede. Nos seus olhos negros eu via encerrados todos os enigmas do universo e na sua boca um segredo mortal. Mais tarde descobriria o quanto isso era verdade.
Agora que penso nisso, não compreendo como não me tinha apercebido da estranheza daquele homem. Ou talvez tivesse e simplesmente não queria saber. Dizem que o maior cego é aquele que não quer ver e, naquela altura, eu era a maior cega que caminhava em Guadalupe. Tudo o que Miguel me dissesse para fazer, eu fá-lo-ia sem hesitar. Com o primo António nunca fora assim. Nem naqueles anos seguintes ao nosso casamento nem em nenhum momento da nossa vida. O meu marido sempre fora um homem de bem, dedicado aos negócios, aos amigos e ao mundo. Ainda assim, a sua dedicação não chegava à minha pessoa. Todavia, era um homem estável; e que mulher não quereria um homem estável?
O primo António rodeava-se de todos os livros de economia, mantendo-se sempre em constante aprendizagem, escrevinhando, sempre que estava em casa, no que gostava de chamar “o seu livro de contas”. Miguel também escrevia quase constantemente, apesar de fazer questão para que eu nunca o incomodasse enquanto o fazia. É o único ponto comum que consigo encontrar entre os dois homens que me preencheram a vida. Nunca entendi a qual dos dois se destinava as palavras da bruxa.